domingo, 29 de julho de 2012

Pensamentos e arredores

tentava desvendar aquela imagem
olhos fundos, um riso quase alegre
navalha e carne entre as gentes.

gostava de acompanhar seus passos
nas manhãs de inverno
dividíamos a fome das esquinas
sem aquecedores,

chafurdávamos o limo
exorcismávamos o ranço
outorgávamos às horas
estranhos frascos e perfumes.

Lou Vilela

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Um toque de Midas

O toque do Midas posteres by Peter Sharpe

Portanto, na vida assim refaço-me:
escrevo sob as brumas o meu cansaço,
alinho pensamento aos braços meus,
há dias de olvido - sabe Deus!

As mãos que ora(m) se enlaçam
traduzem, à Midas, os percalços,
poiesis em laudas 
 sol maior, 
matéria transformada em rigor:

Cheiro de cancro vira pó,
reluz no mar a areia fina
de tantos, compõe-se uma mina.

Paciente, amparo-me no infinito.
Daí o meu jogo preferido:
poetizar o que me afoga.

Lou Vilela



* "Dizem que Midas, ao se abaixar para colher a água na margem do rio, tocou na areia com as mãos e que, por isso, ainda hoje, o rio Pactolo corre por sobre um leito de areias douradas." Disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Midas>. Acesso em 05 de jul. 2012.



segunda-feira, 9 de julho de 2012

Azul

Arte: Índigo by Lou Vilela

Azul
(Lou Vilela)

Essa língua
convoca-me passo
além
do siso
: um desmantelo azul.

SONETO DO DESMANTELO AZUL
(Carlos Pena Filho)

Então, pintei de azul os meus sapatos
por não poder de azul pintar as ruas,
depois, vesti meus gestos insensatos
e colori as minhas mãos e as tuas,

Para extinguir em nós o azul ausente
e aprisionar no azul as coisas gratas,
enfim, nós derramamos simplesmente
azul sobre os vestidos e as gravatas.

E afogados em nós, nem nos lembramos
que no excesso que havia em nosso espaço
pudesse haver de azul também cansaço.

E perdidos de azul nos contemplamos
e vimos que entre nós nascia um sul
vertiginosamente azul. Azul.